sexta-feira, 18 de setembro de 2009

"Rompendo paradigmas: repensando preconceitos sociais na defesa da identidade lingüística brasileira"

(por Jéfte Sinistro)

“Preconceito lingüístico: o que é, como se faz”. Já o nome traz à tona uma reflexão sobre uma realidade vivida, muitas vezes inconscientemente, no cotidiano do povo brasileiro. Não à toa é a obra mais conhecida, já em sua 51ª edição, lançada pelas Edições Loyola, do professor do Instituto de Letras da UnB, Doutor pela USP, escritor conhecido e premiado nacionalmente, lingüista e tradutor, Marcos Bagno. Trata-se de uma obra voltada à defesa do estudo da lingüística nas práticas cotidianas e à revisão de paradigmas sociais voltados à língua, rompendo com a visão elitista desta e enfatizando métodos práticos que favorecem a democratização dos usos da linguagem.

Logo de início, ao apresentar sua obra, o autor fornece uma breve reflexão sobre tema, trabalhando, inclusive, o preconceito dirigido aos indivíduos ao se impor uma maneira “certa” de falar e as falhas na terminologia comumente utilizada, que deixa margem a interpretações ambíguas, como o uso do termo “norma culta”, que pode ser utilizado tanto para determinar a norma padrão idealizada quanto para definir a maneira como realmente fala a “classe culta”, urbana, socioeconomicamente favorecida.

Tendo introduzido o leitor ao assunto, são servidos oito mitos – oito máximas – comumente utilizados e largamente difundidos, em especial pela mídia e pelos defensores de uma gramática normativa morta e conservadora, em nosso convívio social, como o clássico “português é muito difícil”. Tais mitos dizem respeito à confusão entre língua e gramática normativa, ao conservadorismo por parte de alguns gramáticos, ao desuso da norma padrão e à discriminação geográfica, histórica e social, além da oralidade e a própria autodiscriminação.

É essa mitologia que dá base a todo o livro. Refutando, fundamentado em sólidos argumentos sociológicos e lingüísticos, afirmações – às vezes claramente preconceituosas e separatistas – de gramáticos conservadores de renome, que segundo ele alimentam “comandos paragramaticais”, atuantes no “círculo vicioso do preconceito lingüístico”, o autor deixa claras as lacunas deixadas pelos métodos da gramática tradicional.

O círculo vicioso do preconceito lingüístico se dá numa relação tríplice: a gramática tradicional inspira as práticas tradicionais de ensino que alimentam o mercado dos livros didáticos, estes que, por sua vez, baseiam sua estrutura na gramática tradicional, fechando assim o círculo vicioso. Tal fenômeno demonstra-se claramente através da crise no ensino da língua portuguesa no Brasil, uma vez que de tal modo ensina-se nas escolas uma norma padrão obsoleta como verdade absoluta, desprezando-se as demais variedades lingüísticas, resultando num padrão punitivo de ensino que acaba por restringir a livre expressão do aluno, além de intimidá-lo, desmotivando-o e despertando um sentimento de incapacidade.

Diante de tais situações, Bagno motiva o espírito pesquisador do professor sugerindo uma apresentação das variedades da língua ao aluno, instruindo-o à produção das mais diversas formas preocupando-se, a priori, com o desenvolvimento do conteúdo, demonstrando, no evoluir deste processo, a aplicabilidade de cada variedade, incluindo a norma padrão, e desconstruindo o conceito de “erro” e de relação de superioridade entre as variedades lingüísticas, introduzindo, em detrimento deste conceito, uma noção de aplicabilidade, de adaptação às situações.

No contexto “extraclasse”, Marcos Bagno traz duas interessantes questões para o debate. Primeiro, a questão da conscientização e do papel da mídia nesta tarefa, salientando o reforço contrário que, infelizmente, os veículos de comunicação têm dado ao reforçarem teses de gramáticos conservadores e ao ignorarem os lingüistas, que são os cientistas de domínio deste campo de estudo. E, segundo, o importante reforço da afirmação da identidade da língua portuguesa brasileira, salientando as particularidades da língua que falamos, embora seja questionável o desejo romântico de dissociar por completo nosso idioma do de Portugal.

De tal maneira, combatendo os preconceitos, em especial sociais, e a desvalorização do povo brasileiro como país independente implícitos na discriminação das variedades lingüísticas, o autor defende uma democratização e reforço da identidade plural da língua portuguesa brasileira e respeito pelos que a tem como língua mãe, de maneira clara, simples, objetiva e bem fundamentada, fazendo de sua obra uma recomendação não só aos que se debruçam sobre o estudo da língua e do ensino, mas a todos os brasileiros que apreciam a língua de seu país.


(BAGNO, Marcos. Preconceito lingüístico: o que é, como se faz. 51.ed. São Paulo: Edições Loyola, 2009.)

9,75

2 comentários:

Jéssica do Vale disse...

eu tenho esse livro, mas ainda não o li x:

Stella Mariano disse...

CARALHO, amo esse livro.
e jéssica, favor... LEIA!