domingo, 23 de agosto de 2009

“A História por trás das histórias”


A história de quem dá vidas às histórias. É esta a silhueta de uma das mais novas produções do cinema brasileiro de longa-metragem, “O Contador de Histórias”, do diretor, e marido da atriz Denise Fraga, Luiz Villaça.

O roteiro do filme – que se desdobra no universo inteligível do “ser” e do “não ser” – é baseado na história de vida de Roberto Carlos Ramos, brasileiro, mineiro, conhecido mundialmente e eleito um dos dez melhores contadores de histórias do mundo. Definitivamente, um “amante da sabedoria”.

A infância de Roberto Carlos foi um período repleto de atribulações. Como muitas crianças de sua época, em similar situação de pobreza, Roberto foi deixado na FEBEM (Fundação Estadual do Bem Estar do Menor – atual Fundação CASA) por sua mãe, uma lavadeira da periferia de Belo Horizonte, que buscava dar-lhe uma garantia de um futuro promissor.

Foi dos seis aos treze anos de idade, entre o tempo como interno da FEBEM e as 132 fugas registradas em seu prontuário, que ele descobriu a realidade das ruas e, nelas, as drogas e o roubo. Tido como irrecuperável, é ao ser encontrado pela pedagoga e pesquisadora francesa Margherit Duvas, uma mulher em com uma estruturada “consciência de si e do outro”, que sua vida começa a mudar drasticamente, e não só a sua, mas também a da corajosa, intuitiva e obstinada Margherit.

Sem a pretensão de ser um retrato fiel à realidade este filme traz-nos uma intensa reflexão filosófica ao projetar, a partir da história do contador de histórias, os conflitos de consciência e os conflitos existenciais inerentes a todos os homens.

É neste universo dotado de uma realidade própria que Villaça, assim como fazia o jovem Roberto num exercício de auto-preservação, intervém fundindo ficção e realidade de maneira inteligente e estratégica trazendo ao espectador, assim, uma narração que jamais permite saber ao certo se trata-se de uma estória real ou de uma história de ficção.

Em poucas palavras, um filme instigante que traz à tona uma verdadeira imersão na essência do existir.

96%
(Jéfte Sinistro)

Nenhum comentário: